segunda-feira, 26 de agosto de 2019


Parir dói...
Mas não é como nos contam.

Porque dói
De mil dores, sim.

Porque você está ajudando a nascer seu filho, mas também está se parindo

Dói porque logo
Percebe e conhece o poder de seus quadris, que se abrem até muito mais que o limite.

Dói porque todos os seus ossos e órgãos, tudo aquilo que em você conhece e desconhece,

Em seu eu corpo,
Em seu eu pele,
Em seu eu mulher, fêmea, animal... Se expande além dos limites,
Além do que jamais em sua vida poderia ou voltaria a sentir.

Claro que dói parir.
Muito,

De mil dores, te digo.

Quando as contrações te deixam sem ar.
Quando o medo te esvazia e bloqueia.
Quando te laceras com a fúria do fogo.
Quando faz força e seu corpo se transforma em uma maquinaria pesada, ruidosa, lenta, dolorida e adormecida... Tão bonita e poderosa.

Quando a vontade se dissipa e você está tão cansada que já não pode mais. “Vou morrer” diz, e é verdade: você morre.
E que maravilha ver você morrer assim, Deusa.
Que presente.

Sim, algo da mulher que conhece morre um pouco e você se pari, irmã, a você mesma em um ato de poder, de generosidade e entrega.
Em um ato humilde e místico.

Assim, tão pesada, ruidosa, assustada, dolorida e cansada... você nasce.

E isso, não nos contam.
Isso você vive e se vive vendo você mesma.
E é justamente aí, quando acredita ter morrido, quando sente e grita que já não pode mais, que aí para tudo. Que já não continua...
Justo quando está no limbo do neocórtex e no limbo também da vida/morte/vida, que a coroação está perto.
Que seu bebê empurra... e você empurra...
Que a conexão se abre.

E esse ato sagrado, de sangue, líquido, ocitocina, suor, amor e grito... Tem o som quase silencioso,
O som dos ecos, do universo e as raízes... Que é o canto do nascimento da vida.
Hmmm profundo som das águas... E então... Seu filho nasce de você, com você.

Quentinho. Enrrugado. Assustado. Vulnerável.
Filhote... tão lindo.
Preparado para te cheirar e amar... Como você,
Nova mulher,
Parideira da vida, do prazer
E de você mesma. Mãe.

Tradução do texto de LaTribuLunera

segunda-feira, 5 de agosto de 2019


SOBRE A DOR



Hoje pela manhã estive refletindo sobre a dor, essa sensação que só de falar já nos causa má impressão. Temos em nosso imaginário uma conotação negativa em relação a ela. Mas a verdade é que a dor é sumamente necessária para o nosso crescimento e amadurecimento. E essa compreensão me chegou através do livro ‘Para que o amor dê certo’ de Bert Hellinger, criador da Constelação Femiliar. Nele, Hellinger fala sobre os relacionamento entre casais e a dor, quase que universal, que há no amor.
Tod@s já sentimos dor ao longo da vida e vamos continuar sentindo. A dor está presente na transição de ciclos e vivenciamos isso em muitos momentos. Há dor quando alguém finaliza a vida, há dor quando finalizamos um relacionamento ou fechamos um processo, há dor quando nos despedimos para viver em outro lugar ou quando vemos alguém partir. E essa dor pode ser vivida de diferentes maneiras: com mais ou menos consciência; de forma mais ou menos intensa; com muito ou pouco peso. Mas ela está lá e é importante fazermos uma reverência, vivê-la e dar-lhe um lugar.
A dor do parto não é diferente. E a reflexão da importância da dor para nosso processo de amadurecimento me parece bastante coerente quando penso no parto. Eu já acompanhei muitos partos como parteira, como ajudante ou só assistindo mesmo. E em todos eles me admiro com a intensidade do processo. É inegável a sua potência, porque é inegável a potência de assumir o papel de mãe, o papel mais importante da humanidade. E consigo perceber claramente a transformação das mulheres quando atravessam o processo do parto, quando deixam de ser apenas mulheres e passam a ser mães. É inominável essa beleza. É divina. E o mais intrigante é que o hormônio responsável por causar as contrações uterinas - a ocitocina – é também o hormônio responsável pela formação de vínculos entre os seres, é o hormônio do amor. Logo, chegamos à conclusão de que o amor dói, mas é através dele que crescemos, que transitamos em diferentes versão de nós mesmos. Porque, ao longo da vida, nascemos e morremos diversas vezes.

Texto: Aliane Guimarães