sábado, 4 de maio de 2019

RELATO DE PARTO


RELATO DE PARTO


💬 Bárbara, 25 anos, terapeuta holística.

Dia 23/02/19 foi o dia em que dancei o bailado mais lindo de minha vida.
A cada semana os ossos dos meus quadris se alargavam consideravelmente, e eu sentia a dor e o desejo de parir. Eu e o meu corpo tínhamos aceitado o convite para um parto natural, e a cada dia que se passava, me preparava psicologicamente, e o meu corpo respondia em sua mudança estrutural.
Há uns quinze dias as contrações de ensaio começaram a se apresentar. Uma espécie de impulso que expandia cada vez mais a minha vagina, como se ele estive alertando sobre a sua chegada. E estava.
Dia 23 era o primeiro dia de curso de massagem orgástica, e eu, já atrasada, tomava meu banho quase as 14:00, quando o primeiro sinal mais forte chegou: o tampão mucoso, a proteção do colo do útero tinha aberto passagem para meu buguelo sair.
Mas com minha lua em capricórnio, conclui meu banho e fui pro espaço abrir a jornada de dois dias de compartilhamento tântrico. Mal sabia eu que em um trabalho de parto, quando o corpo fala, a mente inevitavelmente silencia. E assim foi.
Enquanto tentava direcionar a dinâmica de abertura do curso, minhas pernas paralisavam a minha mente, e o meu ego se rendeu a abertura do trabalho mais lindo da minha vida. O nosso parto.
Formigamento e confusão mental, parecia a sensação de um orgasmo, porém era em cada partícula do meu corpo, e enquanto eu negava o que estava acontecendo, a dor se apresentou. E é na reverência à dor que a magia acontece. Me dei por vencida e voltamos pra casa. Vesti o meu biquíni e atravessei a rua, enquanto no espaço de uma hora aquela sensação louca voltava a gritar em cada partícula de cada célula. Tomei o primeiro banho de mar do ano (pasmem).
E foi delicioso, acolhedor e de um alívio imensurável. Fiquei mais leve, como a gente fica no colo da mãe.
E a dança já havia começado, eu é que demorei a entrar no ritmo da vida, que me embalava ao fluxo do meu renascimento.
Quando a ficha caiu, o véu entre os dois mundos também havia caído. A música ficava mais alta e o meu ritmo havia mudado. Os meus passos, o meu coração, a minha respiração..tudo tinha um outro compasso, meu corpo estava se expandindo junto à minha consciência.
Confesso que buscava fuga nos intervalos das contrações, doce ilusão, a essa altura não haviam pausas, e a cada contração a dor era mais intensa, e eu, tentava me lembrar do prazer, afinal, a diferença entre ambos, é uma linha tênue, não é mesmo?
Só que era a mistura de tudo, todas as sensações, todas as emoções, tudo misturado, a alquimia da vida acontecendo de uma só vez.
Meu corpo contorcia, minha sensibilidade estava no nível mais alto que experenciei ate hoje. Uma verdadeira borracheira. E era.
Eu via a aurea das pessoas, eu ouvia cada detalhe de cada sussurro, a minha retina captava todas as luzes de uma forma inexplicável.
O banheiro foi o meu refúgio, escuro, quente e úmido..era isso! Isso!! Esse era o convite para o meu filhos chegar. Pra me conectar com ele, eu precisava me sentir como ele, pra buscar ele do outro lado, eu precisava me concentrar exatamente como chegar até lá.
Recebi massagem Tântrica, mas os vibradores não alcançavam a potencia das minhas contrações, senti prazer, mas a contração gritava que não era a hora da energia subir, a ordem era deixar a energia aterrar. De cima pra baixo, não de baixo pra cima. Sentia frio enquanto suava, sentia dor enquanto minha carne vibrava, sentia tudo, enquanto me afogava no nada. Gritava, gemia, urrava. Já não era eu humana, aliás, já não era eu aculturada. Era femea, loba, leoa, selvagem, desfragmentada.
Estava munida de seres incríveis...minha mãe, meu companheiro, minhas amigas, uma doula maravilhosa e a minha parteira, que até hoje não sei se é um ser humano ou um anjo, junto com a sua mãe...mulheres fortes, poderosas e empoderadas.
Banho de assento, piscina inflável, altar, massagem, rezo, música, respira, acalma, relaxa...passando das 18:00 comecei a dilatar...2cm, ainda não é suficiente para considerarmos parto ativo, daqui pra amanhã o nosso Luz há de chegar.
Eu ouvia o som dos maracás e sentia a presença de todos os meus guias, e já não conseguia saber quem estava ao meu redor.
Eu cheguei a acreditar que o meu parto duraria no mínimo 12 horas, e em algum momento, gritando, eu perguntei.
E a cada momento que Aliane ouvia as batidas do coração de meu buguelo, parecia que as contrações eram ativadas com mais potência.
Meu corpo fez a parte dele perfeitamente, minha dilatação pulou de 2 pra 9 cm em duas horas de trabalho de parto.
- Pára a música! Supliquei.
E no silencio meu corpo falava. Mas a minha mente ainda queria dar as ordens... tudo porque eu queria poupar energia pro momento da expulsão.
Mas as minhas entranhas falaram mais alto. E no silencio de minha voz, consegui mergulhar em mim mesma, fui até o mais profundo de mim, buscar meu filho.
- Coroou! Ouvi.
Voltei pra buscar folego e dei mais um mergulho. A cabeça do Caetano Luz veio ao mundo.
- Agora falta pouco!!! Traz o nosso Caetano!
E sob as vozes das mulheres que me empoderavam naquele momento, dei o último mergulho...
Sinceramente, eu desfaleci. Meu corpo morreu até ouvir o choro do meu pequeno iluminado ser. Então pude testemunhar a força do amor incondicional. O amor que me ressuscitou, que me fez testemunhar minha morte e renascimento.
Meu coração agora batia fora de mim.
Caetano nasceu no sábado, às 20:54 do dia 23/02/19.
Um lindo pisciano com ascendente em libra e lua em escorpião.

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