sexta-feira, 3 de maio de 2019

Curandeiras, sanadoras e bruxas: tradição de mulheres


Curandeiras, sanadoras e bruxas: tradição de mulheres


Desde tempos remotos, a mulher tem uma forte conexão com a natureza. Trabalhando a terra e adquirindo saberes tradicionais no uso da herbolária, a mulher foi popularmente associada à práticas de cura e caracterizada como feiticeira, curandeira, bruxa ou xamã.
Desde sempre as mulheres curaram. “Elas foram as primeiras médicas e anatomistas da história ocidental. Sabiam provocar abortos e atuavam como enfermeiras e conselheiras. As mulheres foram as primeiras famacólogas com seus cultivos de ervas medicinais, os segredos de cujo uso se transmitiam de uma para outra. E foram também parteiras que iam de casa em casa e de povoado em povoado. Durante séculos, as mulheres foram médicas sem título; excluídas dos livros e da ciência oficial, aprendiam umas com as outras e transmitiam suas experiências entre vizinhas ou entre mãe e filha. As pessoas do povoado as chamavam ‘mulheres sábias’, ainda que para as autoridades eram bruxas ou charlatãs”¹.
Estes saberes estão ao mesmo tempo depositados na memória coletiva de muitas mulheres campesinas e de origem indígena, que não necessariamente foram curandeiras, sanadoras ou parteiras.
“A medicina forma parte de nossa herança de mulheres, pertence a nossa história, é nosso legado ancestral”².
A história nos demonstra que a perda desses saberes ancestrais se criou a partir do modelo que se deu nas universidades durante o Renascimento. Nesse contexto, o conhecimento se tornou científico, restando a essas mulheres, assim, valor aos saberes tradicionais, recaindo todo o conhecimento exclusivamente nas mãos de homens e transformando o corpo da mulher em um território de experimentos para a medicina moderna.
A esta razão se somam causas religiosas, onde as portadoras desses saberes, curandeiras e bruxas, são condenadas pela Inquisição e a Igreja Católica. As bruxas foram perseguidas pelo conhecimento oficial que começou a se tornar institucional. Seus saberes foram desvalorizados, “demonizados” e recluídos ao segredo. Se conservaram graças à transmissão oral, de geração em geração, entre as mesmas mulheres que recorriam a estes saberes quando necessitavam curar certos mal-estares ou simplesmente decidir sobre seus corpos, como quando necessitavam assistência para um parto ou um aborto.
Com a normatização do saber, o corpo da mulher passa a ser o corpo do “outro”: do médico, do padre, do marido... por fim, da ordem patriarcal.
Entretanto, esta tradição segue viva na memória de muitas mulheres. A maior parte delas são indígenas e/ou campesinas, as que conhecem em primeira mão as propriedades das ervas medicinais e seu poder transmutador, mulheres portadoras de uma espécie de diálogo silencioso e extraviado no meio da modernidade entre o corpo e a terra.
¹ EHRENREICH, B. e D. ENGLISH (1973). Brujas, parteras y enfermeras, una historia de sanadoras. The Feminist Press, EEUU, p.4.
² Ibídem.

Texto extraído e traduzido do livro Del Cuerpo a las Raíces de Pabla Pérez, Inés Cheuquelaf e Carla Cerpa

Nenhum comentário:

Postar um comentário