ÚTERO, MATRIZ SAGRADA
Dentro de ti, o universo. Útero, caldeirão alquímico que nos
conecta com a natureza da vida-morte-vida, com a força primordial do sangue e a
ciclicidade da terra. Todo mês sangramos e deixamos morrer, experimentamos
todas as estações em nós, contraindo e expandindo nossas energias como tudo o
que é vivo. O útero é nossa primeira casa, matriz sagrada, geradora e
acolhedora de toda a vida, cálice que aquece, sustenta, guarda, nutre, a fonte
da vida.
O útero fica localizado dentro da pelve, uma estrutura óssea
que contém e protege os órgãos da bacia (bexiga, útero e reto). Segundo o
Tantra, na pelve ficam localizados dois grandes centros de energia, os chakras
Muládhara (na base da coluna) e Svadhistana (na altura do útero). Svadhistana
significa “morada do eu”. Esse chakra rege os líquidos do nosso corpo e é
orientado pela lua e seus ciclos. O útero tem uma parte física e também uma
correspondência energética. Por isso, mesmo quando o órgão não está presente
fisicamente, sua energia sutil permanece.
Dentro do útero podemos gestar uma vida e oferecer a um ser todos
os nutrientes físicos e energéticos de que ele precisa para se desenvolver
saudavelmente. Se não gestamos, liberamos essa terra fértil rica em nutrientes
todos os meses em forma de menstruação.
Precisamos tomar consciência de nossos úteros. O útero é
nosso segundo coração, nosso coração arcaico, ligados às nossas entranhas e ao
coração da Terra. É nosso centro de poder, a partir dele podemos nos alinhar
para tomar decisões e nos apropriar de nossas vidas.
O útero tem o tamanho de punho ou uma pequena pêra e pode
expandir até 10 vezes seu tamanho durante a gestação. Em nosso útero podemos guardar
memórias de nossas vidas (como de relacionamentos passados, abusos vividos),
memórias de nossas antepassadas ou mesmo memórias do inconsciente coletivo.
Também podemos guardar informações a nível celular e
energético de nossos parceiros sexuais por anos. Algumas tradições espirituais
dizem que retemos essas informações por pelo menos 3 anos (alguns dizem 7,
outros ainda 9). Por isso, precisamos ter muita consciência sobre para quais pessoas
decidimos abrir nosso campo energético e trocar nossos fluidos. É importante
seguirmos o caminho da sexualidade sagrada e consciente que implica profundo
respeito e entrega entre os parceiros durante o ato sexual, para que o amor e o
prazer possam fluir. Precisamos limpar o nosso condicionamento em relação ao sexo
(hoje tão pautado pela pornografia que normatiza uma sexualidade focada na
violência, no esvaziamento emocional e na performance) e abrindo nossos corpos
e almas para o outro, com profundo amor e respeito durante essa troca
energética tão profunda.
Quando vivemos situações de abuso, traumas, relacionamentos (antigos
e do presente) que nos fazem ou fizeram sofrer, nosso útero sente. Por isso
precisamos cuidar da saúde física, emocional e energética do nosso útero
através de limpezas e pequenos gestos e rituais. Olhar para nossas memórias,
contar suas histórias, compartilhá-las com outras mulheres, criar rituais para
fechar ciclos de relacionamentos passados, memórias, vivências de aborto, abuso
ou divórcios. Toda a nossa vida como mulheres está registrada em nosso útero e
precisamos olhar para elas com amor e limpar suas feridas.
Naíla Andrade Sarkar – Mandala Lunar 2019