Parir dói...
Mas não é como nos contam.
Porque dói
De mil dores, sim.
Porque você está ajudando a nascer seu filho, mas também está se parindo
Dói porque logo
Percebe e conhece o poder de seus quadris, que se abrem até muito mais que o limite.
Dói porque todos os seus ossos e órgãos, tudo aquilo que em você conhece e desconhece,
Em seu eu corpo,
Em seu eu pele,
Em seu eu mulher, fêmea, animal... Se expande além dos limites,
Além do que jamais em sua vida poderia ou voltaria a sentir.
Claro que dói parir.
Muito,
De mil dores, te digo.
Quando as contrações te deixam sem ar.
Quando o medo te esvazia e bloqueia.
Quando te laceras com a fúria do fogo.
Quando faz força e seu corpo se transforma em uma maquinaria pesada, ruidosa, lenta, dolorida e adormecida... Tão bonita e poderosa.
Quando a vontade se dissipa e você está tão cansada que já não pode mais. “Vou morrer” diz, e é verdade: você morre.
E que maravilha ver você morrer assim, Deusa.
Que presente.
Sim, algo da mulher que conhece morre um pouco e você se pari, irmã, a você mesma em um ato de poder, de generosidade e entrega.
Em um ato humilde e místico.
Assim, tão pesada, ruidosa, assustada, dolorida e cansada... você nasce.
E isso, não nos contam.
Isso você vive e se vive vendo você mesma.
E é justamente aí, quando acredita ter morrido, quando sente e grita que já não pode mais, que aí para tudo. Que já não continua...
Justo quando está no limbo do neocórtex e no limbo também da vida/morte/vida, que a coroação está perto.
Que seu bebê empurra... e você empurra...
Que a conexão se abre.
E esse ato sagrado, de sangue, líquido, ocitocina, suor, amor e grito... Tem o som quase silencioso,
O som dos ecos, do universo e as raízes... Que é o canto do nascimento da vida.
Hmmm profundo som das águas... E então... Seu filho nasce de você, com você.
Quentinho. Enrrugado. Assustado. Vulnerável.
Filhote... tão lindo.
Preparado para te cheirar e amar... Como você,
Nova mulher,
Parideira da vida, do prazer
E de você mesma. Mãe.
Tradução do texto de LaTribuLunera