sexta-feira, 31 de maio de 2019


CHECK-LIST PARA UM NASCIMENTO CONSCIENTE


Faça uma verificação para ver se você se sente completamente à vontade com os seguintes aspectos de sua experiência de dar à luz. Se você reconhecer que, de sua parte, ainda há trabalho obrigatório a fazer para se sentir plenamente preparada, assuma o compromisso de tomar medidas necessárias para ficar tão pronta quanto possível para seu trabalho de parto e nascimento de seu bebê.
  • Disponho de todas as informações de que preciso sobre o ligar onde darei a luz.
  • Estou consciente e sou capaz de manifestar meus medos e preocupações para a pessoa responsável pelos cuidados de minha saúde, minha família e para mim mesma.
  • Confio profundamente nas pessoas que estarão me dando apoio durante o trabalho de parto e a hora do nascimento.
  • Reconheço e aceito o fato de que haverá momentos durante o meu trabalho de parto em que precisarei abrir mão do controle da situação.
  • Sei que não há problema nenhum em gritar e fazer barulho durante o trabalho de parto e parto.
  • Sei que posso trabalhar com meu corpo durante as contrações.
  • Sei que as pessoas responsáveis pelos cuidados com minha saúde vão trabalhar comigo para me ajudar a criar o parto que eu desejo.
Do livro Origens Mágicas, Vidas Encantadas de David Simon e Vicki Abrams

quinta-feira, 30 de maio de 2019


MITOS E VERDADES SOBRE O PARTO NORMAL


“Eu vou ficar frouxa se parir normal?” Não, isso é um grande mito. A parede vaginal é muscular e ela tem a capacidade de elastecer e voltar ao normal. Com o passar dos anos, a parede vaginal de qualquer mulher tende a ficar mais flácida e os exercícios de Kegel são excelentes para seu fortalecimento e ele é recomendado para todas as mulheres. Então, não se preocupa quanto a isso. Sua vagina vai voltar ao seu tamanho original depois do parto.

“Eu não dilatei e precisei de uma cesárea.” Tecnicamente não existe falta de dilatação nas mulheres. Ela só não acontece quando não é esperado tempo suficiente e é feito a cesárea antes. A dilatação do colo do útero é um processo que só acontece com as contrações uterinas fisiológicas e, para isso, é preciso esperar que as mulheres entrem em trabalho de parto e permitir que esse trabalho de parto se desenvolva. Há mulheres que ficam em pródromos (trabalho de parto inicial) por dias. Uma cesariana realizada nesse momento não permite que a mulher entre na fase ativa do trabalho de parto, em que há contrações efetivas que fazem com que o colo do útero dilate.

“Eu não tive passagem.” Existem situações não muito comuns em que um bebê é grande demais para a bacia da mulher, ou então está numa posição que não permite seu encaixe. Não mais que 5% dos partos estariam sujeitos a essa condição e só podemos saber se um bebê atravessará o estreito inferior da bacia, se a mulher entra em trabalho de parto e chega ao período expulsivo, ou seja, depois da dilatação completa do colo uterino. Antes disso, é muito difícil saber se haverá uma desproporção cefalo-pélvica, termo técnico que designa tais situações.

“Meu bebê está com o cordão enrolado no pescoço.” O cordão umbilical é preenchido por uma gelatina, conhecida como Geleia de Wharton, que tem por função proteger e isolar as artérias e veia contidas no cordão. Isso confere ao cordão umbilical uma capacidade de se adaptar a diferentes formas. O oxigênio vem para o bebê através do cordão direto para a sua corrente sangüínea. Assim, o bebê não fica sufocado pelo cordão umbilical enrolado em seu pescoço, não se fazendo necessária a cesariana por esse motivo. Na verdade, muitos bebês nascem por via vaginal com o cordão enrolado no pescoço sem maiores complicações.

Um excelente parto a todas!

Águas de Parto

terça-feira, 28 de maio de 2019


SOBRE O VÉRNIX CASEOSO




Durante o último trimestre da gestação, o feto é recoberto por um biofilme protetor conhecido por vérnix caseoso, que forma nesta fase uma capa a prova de água a fim de permitir a maturação da pele. É uma espécie de pasta esbranquiçada e graxenta que recobre o bebê ao nascimento, lubrifica sua pele e facilita a passagem no canal de parto. É mais abundante nos bebês que nascem no tempo, escasso nos bebês que nascem depois do tempo, quase ausente nos prematuros e desaparece poucos dias após o nascimento.
Trata-se de um manto protetor contra a maceração pelo líquido amniótico e infecções bacterianas. É composto de 80,5% de água, 10% de lipídeos e 10% de proteínas.
O vernix confere ainda um sistema de defesa poderoso, além de conferir barreira mecânica contra bactérias. Pois algumas das proteínas nele contidas são peptídeos antimicrobianos.
Um estudo espanhol avaliou 1000 RN e o vernix caseoso estava presente em 42,9%. Foram fatores associados a presença do vernix: sexo feminino, RN saudáveis, peso de nascimento adequado e parto normal vaginal de mãe multípara. A ausência de vernix foi associada a presença de eritema toxico neonatal e presença de descamação cutânea. O autor refere que sua presença com características normais indica bem estar do RN, pois esteve associada a maiores índices de apgar.
O vernix não deve ser removido nas primeiras horas (exceto se houver risco de transmissão de doenças maternas) pelas suas propriedades protetoras de hidratação, termoregulação e cicatrização de feridas. Portanto o melhor deixar para dar o primeiro banho após 24 horas do nascimento do seu bebê.

Extraído do Consenso de Cuidados com a Pele do Recém Nascido da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)

segunda-feira, 27 de maio de 2019


SOBRE A ADRENALINA NO PARTO


Qualquer situação que estimule um disparo na liberação de hormônios da família adrenalina também tendem a estimular o neocórtex e, como resultado, a inibir o processo de parto. Isso significa que uma mulher em trabalho de parto, antes de mais nada, precisa se sentir segura. Esse sentimento de segurança é um pré-requisito para a mudança de nível de consciência que caracteriza o processo de parto. Por todo o mundo, e também ao longo das gerações, a maioria das mulheres adotam uma estratégia similar para se sentirem seguras quando estão parindo, e assim manter um baixo nível de adrenalina durante o maior tempo possível. Elas se certificam de que suas próprias mães, dentro da estrutura familiar, ou então uma mulher, mãe e experiente, pertencente a comunidade...uma substituta para sua própria mãe, i.e., uma parteira.
Se considerarmos os mamíferos em geral, é uma vantagem para a sobrevivência das espécies que o trabalho de parto possa não acontecer caso a fêmea se sinta ameaçada (pois assim, ela está pronta para lutar ou fugir de um predador, se necessário). Enquanto um baixo nível de adrenalina é um pré-requisito para o início do trabalho de parto real, e para uma primeira etapa tranquila, o papel da adrenalina durante o trabalho de parto é, na verdade, complexo. Um afluxo de adrenalina é parte da espetacular liberação hormonal que ocorre minutos antes do parto.
Algumas mulheres podem atingir picos tais de secreção de hormônios, e reduzir de tal forma sua atividade neocortical, que elas comparam os últimos segundos do parto com um orgasmo. No começo dos anos 1980, um conhecido apresentador da TV BBC visitou nosso hospital na França. Durante sua visita, uma mulher deu a luz a seu primeiro bebê com apresentação pélvica. Uma hora após o parto, o apresentador perguntou à jovem mãe o que ela sentiu quando o bebê chegou. Sua resposta espontânea: ‘foi como um orgasmo’. Milhões de espectadores ingleses foram testemunhas.

Extraído do livro A Cientificação do Amor de Michel Odent

sábado, 25 de maio de 2019


O ESCURO DO PARTO



A relação da escuridão com o parto é bem estreita. Muitas espécies de mamíferos tem a tendência a dar a luz durante a noite, sobretudo quando são mais ativos durante o dia. E com a espécie humana não é diferente. Muitas mulheres começam a sentir os sinais de parto na madrugada, pois é nesse momento em que há mais silêncio e as mulheres podem estar mais relaxadas. O escuro favorece que a mulher entre em seu próprio íntimo, se conecte com sua força interior e consiga acessar a partolândia com mais facilidade. A partolândia, para quem não sabe, é o lugar que dizemos que as mulheres vão quando estão mais conectadas no trabalho de parto. Ao acender uma luz forte nesse momento, faz com que seja estimulado o neocórtex, assim como a presença de observadores e a fala constante. Quanto menos ativamos o neocórtex da mulher, mais ela consegue acessar o córtex primitivo, responsável pela produção de ocitocina. Então o cenário é de pouca luz, silêncio, calor e entrega. Isso lembra mais alguma coisa? Isso mesmo, o parto se parece muito com uma relação sexual. Na verdade, o parto se configura também como um evento sexual. Quanto mais privacidade, melhor. Quanto mais livre para fazer os movimentos que deseja, verbalizar sons guturais, deixar que suas entranhas se abram, mais fluido e rápido vai ser o processo. E é preciso lembrar que as pessoas presentes sejam de confiança e também estejam conectadas com o momento. Qualquer presença a mais pode desequilibrar energeticamente o ambiente e, as vezes, até parar o trabalho de parto.

Um excelente parto a todas!

Águas de Parto

sexta-feira, 24 de maio de 2019


SOBRE A AMAMENTAÇÃO


Todo mundo fala da amamentação como se fosse um conto de fadas. Ninguém fala da sombra, do cansaço, da dor e machucados. O manejo da amamentação é algo muito singular. Cada mulher vive de uma forma. Depende muito da interação que se estabelece entre a mãe e o bebê, o estado de ânimo da mãe, a vontade que tem em amamentar e outros fatores. Amamentar pode parecer muito fácil para algumas mulheres e muito desafiador para outras. Há interações que são bem sucedidas e o bebê e a mãe conseguem o jeito para fazer isso muito rápido. No entanto, há algumas dicas que podem favorecer o sucesso na amamentação. A primeira delas é que, imediatamente após o nascimento do bebê, ele seja colocado sobre você em contato pele a pele imediato e que esse contato possa durar bastante tempo, já que além de fornecer calor ao seu bebê nessa primeira hora de vida, o bebê nasce com todos os estímulos muito aguçados e sentir o seu cheiro é importante para que ele te reconheça. Nesse momento, é ideal que se coloque o bebê próximo ao mamilo. As vezes, ele não começa a sugar o seio, mas o contato da sua boca com o mamilo já ajuda que ele vá te reconhecendo. As vezes, o bebê já começa a sugar na primeira hora de vida e isso é excelente!
Outra dica importante é fazer com que o bebê abocanhe toda a aréola. Bebês que abocanham apenas o bico do peito, além de não se alimentarem adequadamente, fazem com que o mamilo comece a fissurar e isso pode gerar desconforto para as próximas mamadas. Nesses casos, não use pomadas cicatrizantes. O ajuste da pega do bebê na aréola já vai fazer com que não formem as fissuras e utilizar o próprio leite materno no machucado vai ajudar na cicatrização.
A demanda é livre. O tempo que o bebê suga o seio pode variar a cada mamada. As vezes dura 20 minutos, as vezes 5 minutos, as vezes 2 minutos ou mesmo alguns segundos. Lembre-se que a amamentação não é apenas nutrição. Ao amamentar também estamos liberando a ocitocina, o hormônio do amor, o hormônio da formação de vínculo. Tanto a mulher quanto o bebê liberam. Além disso, o bebê sente muito prazer em sugar. E as vezes ele só quer o afago e o contato que há na amamentação. Deixe que ele sugue pelo tempo que quiser. E isso requer disposição para tal. Por isso a importância de uma rede de apoio, de familiares e pessoas que possam favorecer o sucesso da amamentação. A amamentação não é um evento particular da mulher com seu bebê, é uma responsabilidade de toda a sociedade em proporcionar a nossa futura geração seres humanos mais conectados, sensíveis e cheios de amor.

Águas de Parto


quinta-feira, 23 de maio de 2019


COMO EVITAR LACERAÇÕES VAGINAIS NO PARTO NORMAL


Existem muitas técnicas tradicionais que ajudam a evitar a laceração vaginal no momento da saída do bebê. A medicina ocidental incorporou a prática rotineira da realização da episiotomia, um corte realizado no períneo para evitar uma laceração natural, que pode acontecer ou não. E, na maioria das vezes, quando há uma laceração natural, afeta apenas a mucosa do tecido vaginal, que tem uma rápida cicatrização. Já o corte da episiotomia afeta mucosa, pele e músculo e precisa de mais tempo para cicatrizar e, em geral, ocasiona desconforto às mulheres.
No entanto, existem algumas técnicas que podem ser utilizadas durante a gestação na região do períneo e que ajudam a evitar a laceração no momento do parto. Há um exercício prático, conhecido com o nome de Kegel e consiste em apertar e soltar os músculos da zona pélvica, da região da vagina. E o melhor é que você pode fazer a qualquer momento. Agora mesmo, pode começar a praticar e tentar repetir uma série desses exercícios algumas vezes no dia, principalmente no final da gestação. Então, escolha um momento do seu dia para fazer esses exercícios. Isso vai te ajudar também a ter uma maior consciência dessa parte do seu corpo. Outra maneira de evitar as lacerações é massagear com um óleo vegetal (não usem óleo mineral) toda a região do períneo e o melhor dessa prática é que você pode pedir a ajuda do seu/sua parceiro(a) e já manter uma conexão com o momento do parto juntos. Em uma posição relaxada e em um momento que você não vai ser incomodada, passe um óleo sobre seus dedos para deslizar e massajei a região externa da vagina e toda a região do períneo (essa parte que fica entre a entrada da vagina e o ânus), deslize os dedos e sinta a musculatura sendo estendida, realizando movimentos circulares. Se quiser, pode esquentar um pouco do óleo, o que também vai te proporcionar uma sensação de muito prazer. Realizar essa massagem diariamente por 10 minutos é suficiente.
Um outra medida que pode contribuir também é o uso de compressa com água morna tanto na gestação quanto no trabalho de parto. Para a zona do períneo, colocar uma toalha embebida em água morna ou uma infusão de lavanda e camomila. O calor ajuda a relaxar o períneo e essa técnica pode ser usada antes das massagens. Na gestação, pode deixar a compressa 10 minutos por dia. E no trabalho de parto pode deixar o tempo que se sentir confortável. Muitas mulheres sentem prazer em ter a compressa morna na região do períneo.

Um excelente parto a todas!

Águas de Parto

segunda-feira, 20 de maio de 2019

POESIA

Sou mulher, sou mãe, sou deusa, 

e assim mereço ser cuidada. 
Se parir faz parte da natureza, 
que esta força seja respeitada.

Respeitada pelos homens e por mim mesma, 

pois fazemos a humanidade crescer. 
Que as cesáreas, induções, tecnologia, 
sejam usadas com magia e saber.

Saber que os médicos dominam, 

e nós, mulheres, também. 
Conhecendo nosso corpo e instinto, 
sabemos mais do que ninguém.

Portanto, minha gente, é hora 

de parir como e com quem quiser. 
Se durante a noite ou na aurora, 
a ordem é esperar quando vier.

Chega de intervir na natureza! 

As mulheres precisam compreender, 
receber o bebê no coração, 
experimentar o "dar à luz e renascer".

Livia Pavitra - Amigas do Parto


domingo, 19 de maio de 2019


SOBRE FICAR DE QUATRO NO TRABALHO DE PARTO

Estava pensando a respeito das posições mais comuns usadas pelas mulheres no trabalho de parto espontâneo quando não se sentem observadas ou guiadas e quando não têm uma ideia preconcebida de como o parto deveria ser. Geralmente, estão em algum tipo de postura inclinada para a frente. Durante o trabalho de parto, é muito comum as mulheres estarem sobre suas mãos e joelhos, ‘de quatro’. Durante as últimas contrações expulsivas, quando há uma tendência de ficaram mais eretas, muitas ficam de joelhos, enquanto outras podem se levantar e se apoiar sobre a quina de algum móvel, mas ainda inclinada para frente. Quando me lembro de minha experiência de partos domiciliares, percebo que, na maioria dos casos, eu preciso estar atrás da mulher para ver o bebê vindo.
Este comportamento típico faz sentido sob o ponto de vista de qualquer um que tente entender o processo de parto. Obviamente, muitas mulheres tendem a ficar ‘de quatro’ por ser uma forma de lidar com a dor, especialmente nas costas. Não só algumas posturas ajudam a diminuir a dor da mãe, como também podem facilitar a rotação necessária do corpo do bebê dentro da pélvis. Novamente, quando a mulher está inclinada para frente, isso lhe garante que seus maiores vasos sanguíneos – a veia cava e a aorta- não estão sendo comprimidos entre o peso do bebe no útero e a espinha dorsal da mãe, o que, de outro modo, tenderia a dificultar o sangue fluir para e da placenta. Em resumo, as chances de angústia fetal durante o trabalho de parto são minimizadas quando a mãe se inclina para frente. Como estas vantagens mecânicas são fáceis de explicar, temos a tendência de não incluir o ponto mais importante: quando uma mulher em trabalho de parto está ‘de quatro’, se isola do mundo externo mais facilmente. Ela está na melhor posição possível para reduzir a atividade de seu neocórtex e, portanto, para estimular a liberação de hormônios que promovem contrações uterinas efetivas. Esta visão da mulher indo para ‘outro planeta’, ‘de quatro’, é altamente sugestiva de conexão entre o nascimento e a oração.

Extraído do livro a Cientificação do Amor de Michel Odent

Um excelente parto a todas!

💦Águas de Parto

sexta-feira, 17 de maio de 2019


OMS APOIA DESIGNAR 2020 O ANO DAS ENFERMEIRAS OBSTÉTRICAS E PARTEIRAS


O Conselho Executivo da Organização Mundial de Saúde aprovou, em sua 144ª reunião, em Genebra, proposta do Conselho Internacional de Enfermagem (CIE) e da campanha Nursing Now (“Enfermagem Agora”) para designar 2020 como ano das enfermeiras obstétricas e parteiras (“midwives”, ou obstetrizes). A indicação será levada à Assembleia Mundial de Saúde, em maio, para deliberação.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus destacou, em discurso,  que as enfermeiras e parteiras ano desempenham um papel fundamental para a Saúde de todos. Ressaltou, ainda, que o ano 2020 marca o bicentenário de nascimento de Florence Nightingale, pioneira da Enfermagem, reconhecendo sua contribuição para a Saúde e para Humanidade.
Os países como os melhores indicadores de assistência materno-infantil têm em comum uma atuação qualificada da Enfermagem Obstétrica. A assistência de enfermeiras obstétricas e parteiras habilitadas (obstetrizes) está associada ao aumento dos índices de partos normais, redução das intervenções, das complicações e da mortalidade.


No Brasil, a Enfermagem Obstétrica é um dos pilares da Rede Cegonha, estabelecida pelo Ministério da Saúde, e seu credenciamento pelas operadores de planos de Saúde se tornou obrigatório em 2015. O Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem é parceiro na luta pela humanização e autonomia profissional, por meio de sua rede de Comissões de Saúde da Mulher. e participou da definição das Diretrizes para Parto Normal no Brasil. O Cofen integra o Conselho Internacional de Enfermagem (CIE) e, juntamente com o centro colaborador da OPAS/OMS, coordena a campanha “Nursing Now” no Brasil.
Legislação – A assistência à gestante, o acompanhamento do trabalho de parto e a execução do parto sem distócia estão entre as atribuições dos enfermeiros generalistas enquanto integrantes das equipes de Saúde, conforme o artigo 11 da Lei 7498/86. Os enfermeiros obstétricos e obstetrizes, especialistas em parto normal, têm autonomia profissional na assistência, conforme o artigo 9º do decreto 94.406/87.
Fonte: Ascom - Cofen, com informações do CIE


terça-feira, 14 de maio de 2019


SOBRE O PAPEL DA DOULA

Há pouco tempo, a palavra doula passou a ser conhecida como a mulher treinada e com experiência em nascimentos, que provê suporte físico, emocional e informacional à mulher e sua família durante o trabalho de parto, parto e pós-parto. No entanto, o papel da doula é antigo. Ao longo da história e em diferentes culturas, a mulher recebe apoio, encorajamento e companheirismo de outras mulheres durante o trabalho de parto, o nascimento e as primeiras horas, dias e semanas após, as quais recepcionam o recém-nascido em seus corações. O tradicional círculo de apoio (com amigas ao redor da parturiente e a parteira para acolher o bebê), denomina-se a posição clássica.
Como qualquer coisa embasada em tradição e sabedoria intuitiva, as mulheres sempre amparam informalmente outras mulheres durante a gravidez e o parto em todo o mundo, e agora o fazem de modo formal. É assim que o movimento das doulas passou a se tornar global. Mulheres especiais começaram a atender como doulas muito antes que esse conceito moderno se enraizasse. A partir do momento em que o parto se tornou tecnocrático, separando o corpo da mente e conduzindo-o para um ambiente altamente tecnológico, um pequeno grupo de mulheres começou a ocupar um lugar no trabalho de parto e na consciência de um modo holístico de nascimento, honrando e ajudando mulheres a integraram o corpo, mente e espírito à medida que vivenciam o rito de passagem para a maternidade.
Doulas estão se tornando bem-vindas, apreciadas e recomendadas nas maternidades. Os benefícios que promovem vão muito além da redução expressiva em intervenções cesarianas. Já foi provado que mulheres assistidas no parto por uma doula experimentaram maior satisfação com a experiência de dar a luz, elevaram a auto-estima, sentiram-se mais positivas com seus bebês e diminuíram as taxas de depressão pós-parto. Os benefícios para a sociedade incluem a redução dos custos com os cuidados obstétricos e a obtenção, de forma mais natural, de mulheres e bebês mais saudáveis.
Extraído do livro A Doula no Parto de Fadynha
Um excelente parto a todas!
Águas de Parto

segunda-feira, 13 de maio de 2019


SOBRE A DILATAÇÃO DO COLO UTERINO


O colo uterino é a porção inferior do útero, onde se encontra a abertura do órgão, ou seja, é a porta de entrada e saída. É possível sentir nosso próprio colo uterino, basta colocar o dedo indicador ou médio na vagina o mais profundo possível. Buscando, buscando, vai encontrar uma estrutura com a consistência igual de um nariz. Eureka! Aí está ele!
Durante a gestação. O orifício do útero fica preenchido por uma substância chamada de tampão mucoso, uma secreção gelatinosa, semelhante a um catarro espesso, que se aloja no colo uterino como uma rolha, protegendo a parte interna do útero, onde está o bebê, de microorganismos.
Quando o colo uterino dá início aos preparativos para o parto, em geral, o tampão mucoso começa a sair e é um dos primeiros sinais de que o bebê já quer vir para o lado de fora da barriga. Pode sair semanas, dias e até horas antes do parto, é muito variável, como também é variável a sua coloração. Pode ser transparente, amarelado, amarronzado, esverdeado ou vir com rajas de sangue. Então, não se assustem quando, no final da gestação, encontrarem algo do tipo na calcinha de vocês.
E então, o trabalho de parto vai iniciando aos poucos e o colo uterino vai passando por diversas transformações. Ele fica localizado posteriormente dentro da vagina e vai se tornando anterior. Sua consistência, que é similar a de um nariz, vai amolecendo e ficando com a consistência de um lábio. Seu comprimento que, no final da gestação, é cerca de 3 a 3,5 cm, começa a afinar. Todas essas modificações iniciais são importantes para a dilatação. Normalmente, nas mulheres que vão parir por via vaginal pela primeira vez, o afinamento do colo uterino acontece antes da dilatação. Nas mulheres que já tiveram bebê de parto normal, o afinamento e dilatação acontecem conjuntamente.
A dilatação vai acontecendo gradualmente, a medida que as contrações uterinas vão ganhando intensidade. A cada contração, o fundo do útero, ou seja, a sua parte mais superior, a parte que você consegue tocar lá perto do seu estômago no final da gestação, vai empurrando o bebê no sentindo do colo uterino. Então, há a contração de um lado e a expansão do outro. Além de toda a dinâmica interna de modificação e abertura do colo uterino, os ossos do seu quadril também vão se abrindo, o que ajuda para a passagem do bebê. Observe essa expansão, observe como as suas estruturas se abrem para a chegada do ser iluminado que está em seu ventre. E a grande dica para desfrutar mais do seu trabalho de parto é se concentrar mais na expansão do que na contração.

Um excelente parto a todas!

💦Águas de Parto

sábado, 11 de maio de 2019


SOBRE PARIR EM CASA


Há hoje uma grande polêmica em torno do parto em casa. Muita gente fala muita coisa e, na maioria das vezes, o que não sabe. Podemos pensar num exemplo: uma mulher com seu barrigão, pra lá de 37 semanas, vai em algum lugar público e experimenta dizer que vai parir em casa. Ela, seguramente, vai ouvir, pelo menos, uma pessoa dizendo para ela não fazer isso e contando o caso de alguém que passou o pior parindo em casa. Pensemos agora em um segundo caso: uma segunda mulher, com seu barrigão, vai nesse mesmo lugar público e diz que vai parir no hospital. Certamente vai ouvir muitos incentivos, palavras de força e sorrisos.
Agora vamos voltar cerca de 60 anos na história. Lá na época de nossas avós ou bisavós. Essas duas situações. Será que a reação dessas pessoas frente ao parto em casa e ao parto no hospital seria a mesma?
Então, colocando o cenário de parto em perspectiva, percebemos que ele foi se modificando ao longo da história. O parto, que antes acontecia em casa, na maioria das vezes, passou a ocorrer nos hospitais, as parteiras foram sendo substituídas por profissionais de saúde e as mulheres foram perdendo seu protagonismo e estando sujeitas à solidão em um dos momentos mais significativos de suas vidas. Essa mudança ocorreu devido à própria mudança de valores da nossa sociedade. Estamos mudando a todo tempo, a todo instante. Nos foi naturalizado de que o termo ‘evolução’ é sair do pior para o melhor, mas se pensarmos que ‘evoluir’ é apenas mudar e que a forma como vivemos hoje é apenas diferente da forma como viviam nossos ancestrais, conseguiremos compreender e aprender muito mais.
O parto hospitalar não é tão antigo. Mas existe tempo suficiente para sabermos que não é o mais seguro. E com isso, não estamos demonizando o parto hospitalar. O hospital deve sim existir para as gestações de risco, para os partos que fogem o curso fisiológico. A cesárea deve sim existir, para os casos que a via vaginal é inviável ou pouco recomendada. E vamos agradecer a essa tecnologia que nos ajuda tanto.
Mas vamos perguntar para as mulheres ao nosso redor que pariram em hospital, como elas se sentiram. Vamos perguntar as mulheres que pariram em casa, como elas se sentiram. E vamos ver uma nítida diferença em relação ao acolhimento, satisfação, emoções sentidas, conexão com o bebê e segurança.
Porque a “moda” do parto em casa está voltando e que bom que a “moda” é essa! Que bom que podemos voltar na história e ver como nossos ancestrais sabiam o que estavam fazendo. E que o avanço tecnológico nos trouxe muitos benefícios, mas que temos que usar com moderação.
E por aí vamos desmistificando o parto em casa. Quando alguém decide parir em hoje , primeiro é avaliado todas as condições de saúde da mulher, como foi o curso da gestação para saber se ela está apta a parir em casa. Os partos em casa são, geralmente, acompanhados por parteiras experientes ou profissionais da saúde como enfermeiras obstetras e médica/os obstetras que passaram por um treinamento para as situações de risco. Há todo um plano de contingência pré-estabelecido e há muita responsabilidade por todas as partes envolvidas.
E claro que há situações que fogem do controle humano, e elas permanecem em qualquer lugar, seja no hospital ou em casa. E esses índices estão presentes nos estudos científicos, que comprovam o mesmo risco de morte em ambos os lugares.
E o que sinto dessa polêmica toda é que ainda existe muito medo. Medo da vida, medo da morte e medo da sexualidade. Porque o parto é também um evento sexual. E todos esses medos ainda são grandes tabus em nossa sociedade.

Um excelente parto a todas!

💦 Águas de Parto


sexta-feira, 10 de maio de 2019


O QUE ACONTECE NO TRABALHO DE PARTO E PARTO

Durante o trabalho de parto, os músculos do seu útero se contraem em intervalos para, finalmente, empurrar o seu bebê para fora. Esse é o principal objetivo, a meta. Enquanto estamos em trabalho de parto, o colo uterino vai ficando cada vez mais fino e vai se abrindo em ritmos que variam para cada mulher e para cada parto. Há as contrações do músculo uterino, mas há também uma grande expansão. O trabalho de parto é mais fluido e progride mais facilmente se você prestar mais atenção à expansão que a contração.
Na primeira etapa do trabalho de parto, as contrações são mais fracas e irregulares e depois vão se tornando cada vez mais fortes e regulares. No início, pode sentir como dores menstruais, mas com mais energia. As contrações se tornam mais duradouras e mais intensas a medida que o colo uterino vai ficando mais dilatado. Então, eis que o colo uterino se dilata completamente, chegando a aproximadamente 10 cm de dilatação, abertura suficientemente grande para que passe a cabeça do bebê. O tempo de início do trabalho de parto até o nascimento do bebê é muito variável também. As vezes dura de 12 a 15 horas para um primeiro bebê, mas há casos que chegam a 2 horas ou menos. Entretanto, o tempo é tão singular quanto nossa impressão digital.
Quando o colo uterino está quase aberto completamente, provavelmente você se sentirá comovida, talvez sinta que não vai conseguir parir, que terá que se partir em duas ou explodir ou que todas as suas entranhas sairão para fora se permitir que seu bebê desça no canal no parto. Essa é uma sensação escalafriante, e, a maioria das mulheres, quando estão enfeitiçadas por esse medo particular, estão convencidas de que seus corpos sofrerão um grande dano se relaxam. É muito importante lembrar que seu cérebro é pouco confiável nessa etapa do trabalho de parto. Geralmente é extremamente importante ter alguém que te lembre que você não vai explodir ou partir em duas, mas essa pessoa tem que saber o que está falando e ser convincente. Normalmente esse sentimento passa quando começa a segunda etapa do trabalho de parto e começa uma parte mais ativa.
Essa segunda etapa dura desde a dilatação total até o momento que o bebê nasce. Isto pode durar de poucos minutos até cerca de 3h, em geral. A combinação do seu útero contraindo e os seus puxos com os músculos abdominais fazem com que o bebê atravesse o canal vaginal e venha ao mundo. A urgência de empurrar é involuntária e poderosa, mas é preciso ter uma quantidade de controle tremenda nesse momento. As parteiras podem pedir que você respire e tente controlar a força, para que haja o mínimo de laceração vaginal. Assim que o bebê nascer, ele será colocado sobre você, em contato pele a pele, favorecendo a formação de vínculo e garantindo que ele ou ela esteja quentinho(a). O cordão umbilical será cortado apenas depois de parar a pulsação ou, no caso de um Parto Lótus, não será cortado. A saída da placenta é espontânea. No momento de sua saída, há contrações uterinas também, mas muito menos intensas.
Com o seu bebê no colo, é importante colocar sua boquinha próximo do mamilo e, muitas vezes, o bebê já suga o peito antes mesmo da placenta nascer. E isso é maravilhoso!

Texto traduzido e adaptado do livro Parteria Espiritual de Ina May Gaskim

Um excelente parto a todas!

Águas de Parto

quinta-feira, 9 de maio de 2019


A MAJESTOSA E HONRADA PLACENTA


A placenta é um órgão transitório existente na gestação, responsável por nutrir o bebê e produzir hormônios que ajudam a manter a gravidez. O bebê recebe o alimento e o oxigênio que necessita através da placenta. Ela é uma verdadeira anja da guarda e só deixa de ‘funcionar’ depois que o bebê já nasceu e pode respirar por conta própria.
Em muitos lugares do mundo, a placenta é sagrada, sendo considerada ‘segundo espírito’, ‘irmã mais velha’, ‘segunda irmã’ e as pessoas fazem rituais agradecendo seu papel durante a gestação. Há ainda pessoas que mantém a placenta ligada ao bebê até que ela se desprenda do umbigo naturalmente, é chamado de Parto Lótus e está se tornando cada vez mais comum no mundo ocidental.

A placenta ainda tem poder terapêutico. Pode-se preparar cápsulas para tomar no pós-parto, ajudando a repor nutrientes e diminuir sintomas da tristeza puerperal. Pode-se preparar um tintura madre, que pode ser usada tanto para a mãe, quanto para o bebê, também ajudando nos processos emocionais e servindo para o preparo de óleos e cremes usados em massagem e assadura no bebê. Pode-se comer um pedaço da placenta, batendo no liquidificados com frutas ou com açaí e ajuda a repor os nutrientes da mulher.


Além do uso terapêutico, dá para fazer arte com essa linda! Dá pra fazer o carimbo da placenta e fica uma árvore que se pode emoldurar e transformar num quadro fabuloso. Dá pra fazer também a base de um filtro dos sonhos com o cordão umbilical.



Viram quanta coisa dá pra fazer?

Honremos nossas placentas, honremos sua força sagrada!

quarta-feira, 8 de maio de 2019


SOBRE A OCITOCINA, O HORMÔNIO DO AMOR


É surpreendente porque todos os fisiologistas, médicos e parteiras sabem que este hormônio (a ocitocina) – liberado pela glândula pituitária posterior – é essencial durante o processo de parto e lactação. Ela estimula as contrações uterinas para o parto do bebê e para a saída da placenta. Ela estimula o ‘reflexo de ejeção de leite’.
[...]
É notável que, qualquer que seja a faceta do amor que consideramos, a ocitocina está envolvida. Está envolvida na lactação. Durante o ato sexual, os dois parceiros – homem e mulher – liberam ocitocina. Podemos até concluir, a partir dos estudos de Verbalis, que, quando compartilhamos uma refeição com outra pessoa, aumentamos os nossos níveis de ‘hormônio do Amor’. Compartilhar uma refeição é mais do que simplesmente ser alimentado; é também uma forma de estabelecer ligações com o(a)s companheiro(a)s.

Trechos do livro A Cientificação do Amor de Michel Odent

terça-feira, 7 de maio de 2019


CONSELHO ÀS MULHERES NO MOMENTO DE DAR A LUZ



ENTREGA: no parto, a mulher é o canal principal da força da vida. Se entregue ao trabalho de parto, acolha as contrações, permita-se viver esse momento sem deixar que o medo te paralise. Lembre-se que o parto é tão antigo quanto a própria humanidade e que, portanto, nosso corpo sabe como fazer isso.
OCITOCINA: estar nos braços de alguém, sobretudo quando há trocas de carícias e amor, pode fazer com que você se sinta bem. Você pode fazer isso com seu/sua companheiro(a), sua mãe, amiga ou mesmo a parteira. Se você estiver em um hospital, não tenha vergonha de fazer também. Nesse momento, estimulamos que a ocitocina seja liberada de maneira natural e o trabalho de parto tende a ser mais flúido e menos demorado.
CONTRAÇÃO: durante a contração, respire profundamente e tente concentrar-se na respiração. As contrações não são contínuas, elas vêem em intervalos. Então pode ficar relaxada que fora da contração não há dor. Reclamar da dor e ficar negativa em relação a ela, só vai fazer com que o processo seja mais desafiador. Se você costuma se queixar das coisas na sua vida cotidiana, é melhor evitar fazer isso durante a gestação. Pratique o exercício de ver o lado positivo de tudo que acontece na sua vida.
VOCALIZAÇÃO: emita os sons que seu corpo pede. Não os cale. Deixe que saia de ti da forma que vier. Mesmo que ao ouvir pareça estranho. Mesmo que alguém reclame. A nossa garganta tem ligação com nosso colo do útero. Quando mais liberdade você dá a sua voz, mais fácil seu colo abrirá.
SATISFAÇÃO: é importante que você se sinta satisfeita e acolhida. Peça o que esteja precisando: uma massagem em determinado lugar, de determinado jeito; água; banho; que alguém fale mais baixo; que apaguem a luz; qualquer coisa. Peça tudo o que desejar e lembre-se de agradeça depois.
RIA: tente ficar descontraída, levar o processo de uma maneira leve. Vai chegar um momento que, talvez, seja mais difícil rir, mas tente manter o espírito otimista.
AGRADECER: agradeça que a natureza, com sua tamanha generosidade, está te proporcionando a oportunidade de trazer uma vida ao mundo, tornando-te mãe, o papel mais importante da humanidade. A energia da gratidão é uma das energias mais poderosas do universo e vai te conectar a força criadora.

💜Um excelente parto a todas!

Águas de Parto

sábado, 4 de maio de 2019

RELATO DE PARTO


RELATO DE PARTO


💬 Bárbara, 25 anos, terapeuta holística.

Dia 23/02/19 foi o dia em que dancei o bailado mais lindo de minha vida.
A cada semana os ossos dos meus quadris se alargavam consideravelmente, e eu sentia a dor e o desejo de parir. Eu e o meu corpo tínhamos aceitado o convite para um parto natural, e a cada dia que se passava, me preparava psicologicamente, e o meu corpo respondia em sua mudança estrutural.
Há uns quinze dias as contrações de ensaio começaram a se apresentar. Uma espécie de impulso que expandia cada vez mais a minha vagina, como se ele estive alertando sobre a sua chegada. E estava.
Dia 23 era o primeiro dia de curso de massagem orgástica, e eu, já atrasada, tomava meu banho quase as 14:00, quando o primeiro sinal mais forte chegou: o tampão mucoso, a proteção do colo do útero tinha aberto passagem para meu buguelo sair.
Mas com minha lua em capricórnio, conclui meu banho e fui pro espaço abrir a jornada de dois dias de compartilhamento tântrico. Mal sabia eu que em um trabalho de parto, quando o corpo fala, a mente inevitavelmente silencia. E assim foi.
Enquanto tentava direcionar a dinâmica de abertura do curso, minhas pernas paralisavam a minha mente, e o meu ego se rendeu a abertura do trabalho mais lindo da minha vida. O nosso parto.
Formigamento e confusão mental, parecia a sensação de um orgasmo, porém era em cada partícula do meu corpo, e enquanto eu negava o que estava acontecendo, a dor se apresentou. E é na reverência à dor que a magia acontece. Me dei por vencida e voltamos pra casa. Vesti o meu biquíni e atravessei a rua, enquanto no espaço de uma hora aquela sensação louca voltava a gritar em cada partícula de cada célula. Tomei o primeiro banho de mar do ano (pasmem).
E foi delicioso, acolhedor e de um alívio imensurável. Fiquei mais leve, como a gente fica no colo da mãe.
E a dança já havia começado, eu é que demorei a entrar no ritmo da vida, que me embalava ao fluxo do meu renascimento.
Quando a ficha caiu, o véu entre os dois mundos também havia caído. A música ficava mais alta e o meu ritmo havia mudado. Os meus passos, o meu coração, a minha respiração..tudo tinha um outro compasso, meu corpo estava se expandindo junto à minha consciência.
Confesso que buscava fuga nos intervalos das contrações, doce ilusão, a essa altura não haviam pausas, e a cada contração a dor era mais intensa, e eu, tentava me lembrar do prazer, afinal, a diferença entre ambos, é uma linha tênue, não é mesmo?
Só que era a mistura de tudo, todas as sensações, todas as emoções, tudo misturado, a alquimia da vida acontecendo de uma só vez.
Meu corpo contorcia, minha sensibilidade estava no nível mais alto que experenciei ate hoje. Uma verdadeira borracheira. E era.
Eu via a aurea das pessoas, eu ouvia cada detalhe de cada sussurro, a minha retina captava todas as luzes de uma forma inexplicável.
O banheiro foi o meu refúgio, escuro, quente e úmido..era isso! Isso!! Esse era o convite para o meu filhos chegar. Pra me conectar com ele, eu precisava me sentir como ele, pra buscar ele do outro lado, eu precisava me concentrar exatamente como chegar até lá.
Recebi massagem Tântrica, mas os vibradores não alcançavam a potencia das minhas contrações, senti prazer, mas a contração gritava que não era a hora da energia subir, a ordem era deixar a energia aterrar. De cima pra baixo, não de baixo pra cima. Sentia frio enquanto suava, sentia dor enquanto minha carne vibrava, sentia tudo, enquanto me afogava no nada. Gritava, gemia, urrava. Já não era eu humana, aliás, já não era eu aculturada. Era femea, loba, leoa, selvagem, desfragmentada.
Estava munida de seres incríveis...minha mãe, meu companheiro, minhas amigas, uma doula maravilhosa e a minha parteira, que até hoje não sei se é um ser humano ou um anjo, junto com a sua mãe...mulheres fortes, poderosas e empoderadas.
Banho de assento, piscina inflável, altar, massagem, rezo, música, respira, acalma, relaxa...passando das 18:00 comecei a dilatar...2cm, ainda não é suficiente para considerarmos parto ativo, daqui pra amanhã o nosso Luz há de chegar.
Eu ouvia o som dos maracás e sentia a presença de todos os meus guias, e já não conseguia saber quem estava ao meu redor.
Eu cheguei a acreditar que o meu parto duraria no mínimo 12 horas, e em algum momento, gritando, eu perguntei.
E a cada momento que Aliane ouvia as batidas do coração de meu buguelo, parecia que as contrações eram ativadas com mais potência.
Meu corpo fez a parte dele perfeitamente, minha dilatação pulou de 2 pra 9 cm em duas horas de trabalho de parto.
- Pára a música! Supliquei.
E no silencio meu corpo falava. Mas a minha mente ainda queria dar as ordens... tudo porque eu queria poupar energia pro momento da expulsão.
Mas as minhas entranhas falaram mais alto. E no silencio de minha voz, consegui mergulhar em mim mesma, fui até o mais profundo de mim, buscar meu filho.
- Coroou! Ouvi.
Voltei pra buscar folego e dei mais um mergulho. A cabeça do Caetano Luz veio ao mundo.
- Agora falta pouco!!! Traz o nosso Caetano!
E sob as vozes das mulheres que me empoderavam naquele momento, dei o último mergulho...
Sinceramente, eu desfaleci. Meu corpo morreu até ouvir o choro do meu pequeno iluminado ser. Então pude testemunhar a força do amor incondicional. O amor que me ressuscitou, que me fez testemunhar minha morte e renascimento.
Meu coração agora batia fora de mim.
Caetano nasceu no sábado, às 20:54 do dia 23/02/19.
Um lindo pisciano com ascendente em libra e lua em escorpião.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Curandeiras, sanadoras e bruxas: tradição de mulheres


Curandeiras, sanadoras e bruxas: tradição de mulheres


Desde tempos remotos, a mulher tem uma forte conexão com a natureza. Trabalhando a terra e adquirindo saberes tradicionais no uso da herbolária, a mulher foi popularmente associada à práticas de cura e caracterizada como feiticeira, curandeira, bruxa ou xamã.
Desde sempre as mulheres curaram. “Elas foram as primeiras médicas e anatomistas da história ocidental. Sabiam provocar abortos e atuavam como enfermeiras e conselheiras. As mulheres foram as primeiras famacólogas com seus cultivos de ervas medicinais, os segredos de cujo uso se transmitiam de uma para outra. E foram também parteiras que iam de casa em casa e de povoado em povoado. Durante séculos, as mulheres foram médicas sem título; excluídas dos livros e da ciência oficial, aprendiam umas com as outras e transmitiam suas experiências entre vizinhas ou entre mãe e filha. As pessoas do povoado as chamavam ‘mulheres sábias’, ainda que para as autoridades eram bruxas ou charlatãs”¹.
Estes saberes estão ao mesmo tempo depositados na memória coletiva de muitas mulheres campesinas e de origem indígena, que não necessariamente foram curandeiras, sanadoras ou parteiras.
“A medicina forma parte de nossa herança de mulheres, pertence a nossa história, é nosso legado ancestral”².
A história nos demonstra que a perda desses saberes ancestrais se criou a partir do modelo que se deu nas universidades durante o Renascimento. Nesse contexto, o conhecimento se tornou científico, restando a essas mulheres, assim, valor aos saberes tradicionais, recaindo todo o conhecimento exclusivamente nas mãos de homens e transformando o corpo da mulher em um território de experimentos para a medicina moderna.
A esta razão se somam causas religiosas, onde as portadoras desses saberes, curandeiras e bruxas, são condenadas pela Inquisição e a Igreja Católica. As bruxas foram perseguidas pelo conhecimento oficial que começou a se tornar institucional. Seus saberes foram desvalorizados, “demonizados” e recluídos ao segredo. Se conservaram graças à transmissão oral, de geração em geração, entre as mesmas mulheres que recorriam a estes saberes quando necessitavam curar certos mal-estares ou simplesmente decidir sobre seus corpos, como quando necessitavam assistência para um parto ou um aborto.
Com a normatização do saber, o corpo da mulher passa a ser o corpo do “outro”: do médico, do padre, do marido... por fim, da ordem patriarcal.
Entretanto, esta tradição segue viva na memória de muitas mulheres. A maior parte delas são indígenas e/ou campesinas, as que conhecem em primeira mão as propriedades das ervas medicinais e seu poder transmutador, mulheres portadoras de uma espécie de diálogo silencioso e extraviado no meio da modernidade entre o corpo e a terra.
¹ EHRENREICH, B. e D. ENGLISH (1973). Brujas, parteras y enfermeras, una historia de sanadoras. The Feminist Press, EEUU, p.4.
² Ibídem.

Texto extraído e traduzido do livro Del Cuerpo a las Raíces de Pabla Pérez, Inés Cheuquelaf e Carla Cerpa